Só
recapitulando. Para chegarmos até aqui tivemos que passar pela história da
filosofia, com um foco na semiótica. Passamos pela Semiótica Lógica (Platão,
Aristóteles, Estoicos e Santo Agostinho), passamos pelo processo mais didático
dos epicuristas, depois pela Semiótica Medieval (Roger Bacon e João de São Thomas),
caminhando pelas referências religiosas (doutrina dos quatro sentidos, doutrina
das assinaturas (Paracelso), nos encontramos com a Semiótica Racionalista (René
Descartes) e chegamos até a Semiótica Moderna (John Locke, Charles Sanders Peirce
e Ferdinand Saussure). Isso tudo em apenas dois textos aqui deste blog, respectivamente:
Semiótica – Até tu, Santo Agostinho? e Semiótica – Da Era Medieval Até Peirce. Não
é necessariamente obrigatória a leitura dos textos nessa ordem, mas seria
interessante dar uma olhada. Mal não vai fazer, garanto. Mas, neste caso, a
ordem dos tratores não altera o viaduto. Você pode partir para os fundamentos da
semiótica e depois ver quais os ‘fundadores’ (construtores) da semiótica ao
longo da história. Vamos lá!
Linguagem, Signo e Semiótica
Um
belo dia, Charles Sanders Peirce (1839 – 1914) acordou e pensou: “eu sou muito
foda, vou estudar a natureza e o movimento das reações dos signos entre signos”.
Não foi bem assim, mas você entendeu que ele se propôs a estudar a natureza e o
movimento dos signos entre signos, não foi? Então, ele não só estudou a
natureza e o movimento dos signos sobre os signos, ele propôs um amplo debate
sobre como poderia ser o corpus da representação da realidade e estava, com isso,
também promovendo o escopo de como seria o processo de significação.
O
foco central dos estudos de Peirce prima pela investigação de qualquer tipo de
comunicação e que contemple toda a extensão das linguagens e ação do signo.
Quando
um interpretante pensar em um objeto qualquer (telefone), aquilo está na mente
do interpretante (estou pensando em um telefone e você também), mas estamos
apenas pensando em um telefone, ele não é o objeto no qual estamos pensando, é
uma imagem, uma representação de um telefone, portanto, signo dele (não
pensamos objetos, pensamos pensamentos, imagens etc.). Na tríade desenvolvida
por Peirce e desenhada (estragada) por mim, fica assim:
Tudo
pautado em evidência como evidentemente se pode notar. Todo conhecimento deve
ser construído por dados, premissas e demonstrações verificáveis. Nos estudos peirceanos
toda interpretação tem signo.
Signo Verbal
O
signo verbal se constitui como um tecido semiótico formado por informações e
compilações documentais. Nós podemos, por exemplo, pegar um texto e desenhar
algo a partir dele. Como eu não sei desenhar, ou pegar alguém que entenda
disso.
Mentira, é de Peter Paul Rubens, óleo. Jesus Crucificado.
O
pintor tentou agrupar o conjunto de informações de signos, buscou praticamente
materializar o acontecimento descrito no texto bíblico em um signo visual. Isso
poderia muito bem ser resumido numa tríade que ficaria assim:
O
signo ou representamen pretende representar
o objeto sendo este capaz de determinar o interpretante. O signo tem por
natureza a função de representação, de estar presente, ou seja, estar no lugar
de algo, mas não ser o próprio algo. O que você tem a dizer sobre isso, caro
Peirce?
-
Bem, Pierre Logan, é o seguinte:
“Um
signo, ou representamen, é aquilo
que, sob certo aspecto ou modo, representa algo para alguém. Dirige-se a
alguém, isto é, cria, na mente desta pessoa, um signo equivalente, ou talvez um
signo mais desenvolvido".
Signo visual
Nem
precisa dizer que signo visual diz respeito ao aspecto não verbal, certo?
Ótimo! Sigamos. A semiótica peirceana afirma que uma das funções do signo, entendido
como a tríade formada pelo signo, objeto interpretante, é de ocupar o lugar da “realidade”.
A realidade irá se manifestar por meio da mediação dos signos, isto é, a
possibilidade de acessar essa “realidade” se dá pelos signos. Essa realidade,
portanto, sempre será incompleta porque o signo não é capaz de atingir uma
plenitude, ele não pode ser 100% de realidade. Diante dessa incompletude dos
signos verbais, da falta de capacidade do signo textual, o Peter Rubens recorreu
a imagem visual.
A
cadeia sígnica fundamentada por Peirce divide a natureza plural do signo em: Objeto dinâmico e imediato e interpretantes
imediato, dinâmico e final ou interpretante entre si.
Objeto dinâmico: está fora do signo, é aquilo que o signo substitui,
varia com o contexto, normalmente, é a derivação do objeto imediato.
Objeto imediato: está dentro do signo e apresentado no signo, é de aspecto
geral. A mensagem em si com todo o seu conteúdo, a forma como o signo se
apresenta e se assemelha, como sugere e expressa, é o objeto imediato.
Interpretante
imediato: são as possibilidades de interpretação que o
signo
permite, aptos a produzir efeitos interpretativos ou a
ideia de um efeito, de uma forma etc.
Interpretante
dinâmico: é o efeito real que o signo produz, num dado
instante, sobre o interpretante, por esta razão existe a possibilidade de
atualizar a forma de interpretar o signo e até acrescentar-lhe novos sentidos.
Interpretante final
ou interpretante em si: é o efeito “final”
produzido em
qualquer mente, ou seja, é interpretante final por ter
finalizado e findado nessa condição de produção, entretanto, logo poderá ser
articulado para novas leituras que proverão novos significados e novas
aplicações.
Bons estudos, garotada! Arrumem um livro bom de Semiótica
e leiam até o final, anotando, comentando, traduzindo e compartilhem com os
colegas.
Por Pierre Logan
Advogado, Bacharel em Direito pelas Faculdades Metropolitanas Unidas. Pós-graduando em Direito Processual Civil pela Escola Paulista de Direito. Filósofo e licenciando em filosofia pela Universidade Cruzeiro do Sul. Membro do Seminário de Filosofia - Olavo de Carvalho e da Jovem Advocacia de São Paulo. Compositor, gravou no final de 2015 o disco Crônicas de Um Mundo Moderno. Atualmente também é colunista do Jornal SP em notícias.
Contato:
jadieldeandrade@gmailcom
pierreloganoficial@gmail.com
jadieldeandrade@adv.oabsp.org.br
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