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SEMIÓTICA – ATÉ TU, SANTO AGOSTINHO?

Semiótica é o estudo dos signos, que consiste em todos os elementos que representam algum significado e sentido para o ser humano, abrangendo as linguagens verbais e não verbais. Ela teve sua origem, provavelmente, na Grécia Antiga, mas se desenvolveu apenas no século XX, com os trabalhos de Ferdinand de Saussure (1857 – 1913), e Charles Peirce (1839 – 1914).

A semiótica busca estudar e entender todo o processo de comunicação, como eles são feitos, quais os seus sentidos, quais são os seus efeitos na vida do ser humano tanto no plano individual quanto no social, portanto, seus objetos de estudo são extremamente amplos.

Platão (427 a.C. -347 a.C.) foi considerado o primeiro pensador a organizar a estrutura triádica do signo, já que em seu diálogo Crátilo (Justezas dos Nomes), ele sistematizou e relacionou “nome”, “ideia” e “coisa”.

Para Platão funcionava mais ou menos assim:


SIGNO = Nome + Ideia + Coisa


Para esse pensador as verdades ditas por palavras, mesmo que essas tenham muitas semelhanças com as coisas às quais se reportam, elas sempre são inferiores ao conhecimento direto. Platão, já no século IV a.C., prenunciava as bases do que chamaríamos, depois de um longo tempo, de semiótica.

Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.) complementou o modelo platônico. Esse filósofo, fundamentou a teoria dos signos no eixo da lógica e da retórica; estabelecendo a distinção de signos incertos (semêion) e signos certos (temérion).

Signo incerto seria o grupo de signo que não representariam nenhuma relação ou definição clara, por possuir muitas variedades de significados; os signos certos seriam aqueles signos que estão no grupo dos que apresentam apenas uma significação. A linha de estudos dos signos de Aristóteles foi basicamente lógica. Para ele a conceitualização do signo parte de uma relação de “implicação de verdades lógicas”, por exemplo:

[(“A” implica “B”); (“A” é condição suficiente para “B”). (Para que “A” é necessário que “B”); (“B” é condição necessária para “A”). (Se “A”, também “B”); (“B” cada vez que “A”); (“B” se “A”); (“B” sempre que “A”)]. Em outras palavras, “A” atua como signo de “B”. Isso fez com que o signo surgisse como uma premissa que conduziria a uma conclusão.

O modelo lógico aristotélico é, portanto, um modelo de signo linguístico construído de forma composta. Ele nomeia o signo linguístico de “símbolo”, symbolon, depois define como sendo signo convencional das “afecções” da alma pathémata; depois, detalha essas afecções e estabelece cada uma como sendo “retratos” das coisas, prágmata.
Algo como:



SIGNO = SYMBOLON + PATHÉMATA + PRÁGMATA
             Convenção            Afecção                  Retrato


Esse modelo triático atravessou séculos, mesmo os estoicos (300 a.C.-200 d.C.), retomaram o modelo platônico e Aristotélico e estabeleceram o signo com três elementos básicos: semaínon (significante), Semainómenon ou lékton (significação ou significado) e tygchánon (objeto). Os estoicos teorizaram pautados claramente na lógica, ou seja, para eles a cognição de um signo se dava a partir do desenvolvimento silogístico.


SIGNO = SEMAÍON + SAMEINÓMENON + TYGCHÁNON
            (significante)        (significação)              (objeto)


Os Epicuristas (século IV a.C.), propuseram uma forma didática de estudar o signo, para eles o significado imaterial do signo, semainómeno, não poderia ser considerado como componente semiótico do signo. Para os epicuristas a origem das imagens era apenas objetos físicos. Existiriam apenas, para esses, dois componentes na estrutura dos signos: semaíon (significante) e tygchánon (objeto).

SIGNO = SAMEINÓMENON + TYGCHÁNON
                (significante)            (objeto)


Em outras palavras, essa concepção está ligada a visão materialista, uma vez que o signo se relaciona somente com categorias materiais.


A semiótica só se tornaria determinante na área do conhecimento com Aurélio Agostinho (354 d.C.-430 d.C.). Conhecido como Santo Agostinho, foi ele o fundador da semiótica, teria sido o primeiro a intitular o termo signum, concebido como instrumento através do qual a comunicação é levada a feito, não importando o tipo de nível.

Inicialmente Santo Agostinho defendia a tese dos epicuristas, mas também se alinhou a algumas ideias dos estoicos, distinguiu signos naturais e signos convencionais, esclareceu a relação entre signo e coisa. Ele forneceu as bases para o estudo da semiótica que possibilitou investigar qualquer tipo de comunicação em qualquer extensão da linguagem.


Vamos dar um pulinho na Idade Média para ver como anda a semiótica por lá? Combinado! Até o próximo texto, seus viciados! 

Por Pierre Logan

Advogado, Bacharel em Direito pelas Faculdades Metropolitanas Unidas. Pós-graduando em Direito Processual Civil pela Escola Paulista de Direito. Filósofo e licenciando em filosofia pela Universidade Cruzeiro do Sul. Membro do Seminário de Filosofia - Olavo de Carvalho e da Jovem Advocacia de São Paulo. Compositor, gravou no final de 2015 o disco Crônicas de Um Mundo Moderno. Atualmente também é colunista do Jornal SP em notícias. 

Contato: 
jadieldeandrade@gmailcom
pierreloganoficial@gmail.com
jadieldeandrade@adv.oabsp.org.br

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