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TRICOTOMIA E CLASSES DOS SIGNOS


Para entender este texto é preciso que você, caro leitor, leia primeiro a Fenomenologia em Peirce. Como vimos em textos anteriores deste blog, as relações triádicas deixaram de ser novidade desde Platão (427 a.C-347 a.C.). Platão foi um dos primeiros a apontar uma sistematização entre “nome”, “ideia” e “coisa”, portanto, estruturas triádicas. Peirce, desenvolveu, a partir dessas relações uma classificação que resulta na divisão dos signos em mais de dez classes que são uma espécie de distribuição lógica entre combinações possíveis entre tríades.

Semiose
Semiose é entendida como o processo de significação do signo. É preciso, de fato, considerar o movimento do signo para gerar o significado, ou seja, a inter-relação do signo, objeto e interpretante.

Segundo Peirce, na semiose não há restrição ou limitação, pois o processo é amplo, é ilimitado, uma vez que na cadeia há uma ação de gerar, produzir e criar e, consequentemente, sendo tudo transformado novamente. Mas é importante perceber que semiose é um processo contínuo e não somente uma transformação de signos passo a passo e, menos ainda, um encadeamento diático de tríades.

Esse sistema de representação poderá ser entendido pela assimilação da semiose, pragmatismo e as classificações do signo. As tricotomias são constituídas e denominadas por:

Primeira tricotomia: qualisigno, sinsigno e legisigno;
Segunda tricotomia: ícone, índice, símbolo;
Terceira tricotomia: rema, dicente, argumento.

Primeira tricotomia
A primeira tricotomia refere-se a qualisigno, sinsigno e legisigno e assinala a primeiridade do signo, considerado o signo em si mesmo.
Qualisigno é uma qualidade que é um signo. Qualidade enquanto signo de possibilidade de primeiridade.

Sinsigno é um signo correspondente a um ato existencial. Sin corresponde a primeira silaba do singular, podendo originar uma ideia universal, pertence a uma secundidade de uma primeiridade.

Legisigno é uma lei que é um signo. Nós convencionamos determinados signos como lei. Pertence a uma terceiridade de uma primeiridade.

Segunda tricotomia
A segunda tricotomia é caracterizada pelo ícone, índice e símbolo. Está ligada a natureza da relação entre signo e o seu objeto dinâmico.

Ícone é um signo que pode ser definido como uma imagem em uma mente, não tem ligação dinâmica com o objeto que representa. O ícone apenas sugere a imagem de seu objeto possível. Não há necessidade nenhuma de se escrever nada. Um exemplo são aqueles sinais nas portas do banheiro. Você observa as figuras e sabe qual vai usar, não é necessário estar escrito “homem” ou “mulher”.

Índice é um indicador. Ele mantém com seu objeto uma relação de causa e efeito, o signo induz, materialmente, o objeto, e este está fisicamente ligado a ele.

Símbolos mantêm uma relação convencional ou arbitrária com seu objeto. São inventados pela inteligência. A convenção que une o signo ao objeto é social e abstrata, pois não há nenhuma relação ou associação. Exemplo: bandeiras, sinais de trânsito, brasões símbolos matemáticos etc.

Terceira tricotomia
A terceira tricotomia é caracterizada pelo rema, dicente e argumento. São categorias muito difundidas na lógica e na filosofia. Termo, proposição e argumento.

Rema é um signo que denota total vagueza. Signos remáticos são tão vagos que precisam de uma determinação ulterior.

Dicente é um signo que, para seu interpretante, é um signo de existência real. O símbolo índice indica apenas o objeto denotado, o objeto que é sujeito da proposição. Podemos considerar que o dicente é de natureza informativa e pertencente à esfera de seguridade, interpretante de signos indiciais. O signo dicente oferece materialidade, elementos para tal avaliação.

Argumento é um signo que representa distintamente seu interpretante. Enquanto signo de terceiridade, o argumento é um signo de lei, sendo uma norma reguladora ou um princípio guia.




Por Pierre Logan

Advogado, Bacharel em Direito pelas Faculdades Metropolitanas Unidas. Pós-graduando em Direito Processual Civil pela Escola Paulista de Direito. Filósofo e licenciando em filosofia pela Universidade Cruzeiro do Sul. Membro do Seminário de Filosofia - Olavo de Carvalho e da Jovem Advocacia de São Paulo. Compositor, gravou no final de 2015 o disco Crônicas de Um Mundo Moderno. Atualmente também é colunista do Jornal SP em notícias. 

Contato: 
jadieldeandrade@gmailcom
pierreloganoficial@gmail.com
jadieldeandrade@adv.oabsp.org.br

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