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FILOSOFIA E POLÍTICA

O que é filosofia política?

Incialmente devemos recordar que a filosofia como conhecemos no Ocidente surgiu no século V a.C. na Grécia Antiga. O pensamento filosófico foi marcado pela passagem do pensamento mítico estabelecido por Hesíodo na sua conhecida Teogonia, para o pensamento racional quando surge a ideia do logos (que pode ser traduzido como: o verbo, palavra escrita ou falada). Os primeiros filósofos ficaram conhecidos como pré-socráticos (porque vieram antes de Sócrates), olhavam para a physis (a natureza) e buscavam a arché (o princípio de todas as coisas, a origem de tudo, o motivo inicial).

Como se pode notar no parágrafo anterior, o pensamento filosófico não se preocupava muito com a questão social, mas depois dos pré-socráticos, passou-se a discussão das questões voltadas para o homem, para natureza humana. Os responsáveis pelo início dessa discussão foram pensadores como Sócrates (470 a.C.) e os sofistas (professores de argumentação), dessa forma, iniciou-se um debate sobre as questões políticas e sociais.

É possível definir a filosofia política como sendo a área de filosofia que estuda a convivência dos humanos em grupo, em sociedade e de discutir assuntos que se relacionam com a vida comum, portanto, estabelece teorias de como deve ser um Estado e qual seria a forma do governo ideal do ponto de vista político.

Não seria equivocado dizer que a filosofia política começou com Sócrates. Ele era legalista ao extremo e defendia que até as leis injustas deveriam ser respeitadas. Muitos consideraram seu julgamento injusto (foi condenado à morte por duvidar dos deuses e corromper a juventude) e mesmo tento oportunidade de fugir se recusou, pois dizia que fugir era contra as leis da cidade.

Política

A Grécia Antiga não era uma cidade, mas várias cidades estados autônomas que que a constituíam. Essas cidades eram chamadas de pólis, daí o nome política ou politiké. Com isso pode-se concluir que política era (e é) uma prática que se relacionava com o modo de vida daquelas pessoas. Antes dos gregos pode se dizer que não existia política, mas sim, o exercício do poder despótico ou patriarcal.

Para Aristóteles (384 a 322 a.C.) o homem é um  zoon politikon (animal político) o que significa que para o filósofo a política é algo que faz parte da natureza humana. A política seria, nesse sentido, uma característica biológica própria do ser humano e não uma escolha.

Para que política?

A política, como já dito aqui, é algo inerente ao ser humano. O homem busca uma vida boa, justa, feliz etc., mas para alcançar esse objetivo será necessário unir a política com a ética. Tanto Aristóteles (384 a 322 a.C.) como Platão (428/427 a 348/347) afirmavam que as qualidades da polis dependiam das qualidades do cidadão, o que significa que somente numa cidade boa e justa os homens poderiam ser bons e justos e assim fazer a cidade boa e justa. Para se conseguir esse feito precisaríamos da ética.

Ética deriva de ethos, que significa caráter ou costume. Também costumamos definir ética como sendo uma reflexão acerca dos valores, padrões e normas estabelecidos pelos homens ao viverem em sociedade. Seria, digamos, a busca da melhor convivência para todos.

Para nós aqui do Brasil faz sentido falar em ética e política de modo separado, ou como se fossem coisas distintas, mas para os gregos do século V a.C., não se falava em uma coisa sem a outra. Política e ética eram indissolúveis, de modo que não era possível pensar em uma coisa sem a outra.

Sofistas e a política

Sofista vem do grego sophos (sábio). Não obstante o significado seja esse, utilizavam o termo para aqueles cujo conhecimento tinha alguma utilidade (conhecimento técnico), não para pessoas que sabiam muitas coisas. Os sofistas (sophistes) acreditavam que os seres humanos criaram a polis porque era mais vantajoso e por isso estabeleceram alguns acordos, leis etc., de maneira tal que pudessem conviver pacificamente. Eram relativistas obviamente, pois declaravam em sua doutrina filosófica que as verdades são relativas e mutáveis (dependia de cada um). Para esses eles nossas verdades são provisórias e dependia da preferência, do gosto, da cultura de cada ser.

O sofista com maior destaque foi Protágoras de Abdera (485 a 415 a.C.) que afirmava que “o homem é a medida de todas as coisas, daquelas que são e daquelas que não são”. Em outras palavras, não existe uma verdade absoluta nem definitiva. Isso também servia para a política.

Para esses pensadores, a política não era algo que buscava a verdade (alethéia), mas a opinião (doxa), por isso, os filósofos, que buscavam a verdade, fizeram forte oposição aos sofistas.

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Pierre LoganFormando em direito com inclinações filosóficas e licenciando em filosofia. Foi líder da banda Estado Mental, gravou o disco “A separação dos tempos” (2010). Atualmente, em sua carreira solo, lançou o disco Pierre Logan: Crônicas de um mundo moderno (2015), cuja proposta (rock filosófico) o deixou na vanguarda dos roqueiros mais promissores da nova leva da cena independente. Atualmente mora em São Paulo e também é colunista do jornal SP em notícias, publicou vários artigos sobre política e filosofia. Mais informações acesse o site oficial 

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